Resumo

A Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) ocupa um papel fundamental no cenário científico brasileiro ao promover a construção, validação e disseminação do conhecimento nas ciências da vida. Este artigo analisa a palestra “A FeSBE e as Ciências da Vida”, ministrada pelo Prof. Dr. Eduardo Colombari, destacando os princípios epistemológicos que orientam a atuação da FeSBE, como a transdisciplinaridade, a crítica entre pares, a legitimidade social da ciência e a importância do engajamento político dos cientistas. À luz de uma perspectiva que valoriza a complexidade e a interconexão entre os saberes, propõe-se uma leitura integrada da ciência como prática coletiva, crítica e transformadora.

Palavras-chave: FeSBE; ciência brasileira; epistemologia; transdisciplinaridade; crítica científica; política científica.

1. Introdução
A produção científica, especialmente no campo das ciências da vida, não pode ser compreendida de forma isolada. Ela emerge de uma teia de relações entre pesquisadores, instituições, saberes especializados e contextos sociais. É nesse sentido que se insere a atuação da FeSBE (Federação das Sociedades de Biologia Experimental), cujo papel como articuladora de diferentes sociedades científicas é mais do que organizativo: é epistemológico, ético e político. A palestra do Prof. Dr. Eduardo Colombari, ministrada em 10 de abril de 2025, abordou esse papel com profundidade e sensibilidade, destacando o compromisso da FESBE com uma ciência viva, colaborativa e responsável.

2. Desenvolvimento
2.1 A FESBE como espaço de legitimação epistemológica
Fundada em 1986, a FeSBE congrega atualmente cerca de 25 sociedades científicas, como as de Fisiologia, Farmacologia, Neurociências, Bioquímica e Imunologia. Sua origem responde a uma necessidade histórica: superar a fragmentação do conhecimento e integrar diferentes áreas em torno de um projeto comum de produção científica. O professor Colombari destacou que os congressos anuais da federação, bem como os eventos regionais, funcionam como lócus de crítica e validação do saber, ao expor os trabalhos científicos à apreciação da comunidade, estimulando a revisão por pares e promovendo um ambiente de diálogo entre diferentes campos.

2.2 Ciência como prática social, racional e crítica
Um dos pilares conceituais destacados foi a compreensão da ciência como prática social e racional, orientada por evidências, experimentação e comunicação sistemática. Esse modelo científico não se esgota na lógica empírica ou na metodologia estatística: ele envolve responsabilidade coletiva, vigilância crítica e abertura permanente à dúvida e à reformulação. A FeSBE, ao defender essa postura, contribui para que a ciência seja entendida como um bem comum, acessível e responsável perante as demandas sociais e ambientais do país.

2.3 A importância da transdisciplinaridade
A complexidade da vida exige um olhar que ultrapasse os compartimentos tradicionais do saber. Ao integrar fisiologia, farmacologia, neurociência, bioquímica e outras áreas, a FeSBE promove a construção de abordagens integradas e sistêmicas, mais aptas a compreender fenômenos como o metabolismo, as doenças crônicas, o comportamento humano e os impactos ambientais. O professor Colombari mostrou que, na prática da biologia experimental, essa articulação permite que múltiplas camadas do real sejam investigadas simultaneamente, rompendo com o reducionismo e favorecendo a inovação.

2.4 Formação científica, crítica e política
Outro ponto relevante foi a defesa de uma formação científica que vá além da técnica. Para o professor Colombari, formar pesquisadores é formar sujeitos críticos, engajados com o mundo e conscientes das condições materiais e simbólicas que sustentam (ou inviabilizam) a ciência. Nesse sentido, o palestrante chamou atenção para o subfinanciamento das universidades brasileiras, a precarização da carreira científica e a necessidade de políticas públicas que garantam acesso, permanência e dignidade aos pesquisadores em formação. A ciência, afirmou, não pode se furtar ao debate político: é necessário ocupar espaços de decisão, cobrar investimentos e defender a educação e a pesquisa como direitos fundamentais.

2.5 A FeSBE como ponte entre a ciência e a sociedade
Além de seu papel na validação do conhecimento, a FESBE atua como mediadora entre a produção científica e a sociedade. Os congressos e programas de divulgação científica incentivados pela federação contribuem para aproximar o saber acadêmico das demandas populares, promovendo a democratização do conhecimento e combatendo a desinformação. Em tempos marcados por fake news e negacionismos, esse papel se torna ainda mais urgente. A ciência que se reconhece como prática ética e social é também aquela que se compromete com a construção de um futuro mais justo, sustentável e inclusivo.

3. Conclusão
A palestra do Prof. Dr. Eduardo Colombari revelou que pensar a FeSBE é pensar a ciência como rede, como experiência compartilhada, como construção coletiva de sentidos e soluções. A federação, ao reunir múltiplas vozes, saberes e instituições, encarna uma epistemologia da interdependência, onde a crítica não é obstáculo, mas condição de validade. Através de sua atuação, a FeSBE reafirma que o conhecimento não é neutro nem isolado: ele é histórico, situado e comprometido com a vida. O desafio que se coloca, portanto, não é apenas técnico, mas existencial: como fazer da ciência um exercício de lucidez, solidariedade e transformação?